Por que plantas alimentícias não convencionais?

Ver o mundo através de uma visão mais ecológica me fez refletir sobre várias questões, dentre elas, a importância da preservação da biodiversidade, tanto animal quanto vegetal, que também se traduz em um nível maior, na preservação da diversidade de culturas e tradições humanas, que estão sendo cada dia mais esquecidas, principalmente por causa da crescente uniformização das culturas, costumes, alimentação, gostos e preferências ao redor do mundo. Não é raro que eu e você, visitante, nos perguntemos: o que é tradicional e local de nossa cultura e identidade? Você consegue imaginar que existem cerca de 13.000 espécies de plantas com potencial alimentício no mundo, mas usamos com frequência apenas 20, que correspondem a 90% do grosso da alimentação mundial? Já parou pra pensar que por trás de cada planta alimentícia tem uma história por trás, relacionada a cultura?

As plantas participam de grande parte do comércio mundial, eu diria que são um dos principais motores da economia mundial. Sem elas não viveríamos! Pelo menos 3 vezes por dia precisamos delas como alimento, e qual é o valor que damos aos produtores e à cadeia que liga esses trabalhadores e seus produtos a nós, consumidores finais, cidadãos de  cidades grandes, urbanóides? Conhecemos muito pouco do alimento que chega às nossas mesas, e isso faz com que nos alimentamos muito mal, comendo comida cheia de agrotóxicos, super industrializada e produtos que tem seu cultivo responsável pela destruição de florestas e ecossistemas importantes do Brasil (Floresta Amazônica e Cerrado, principalmente). O que estamos fazendo para reverter esse quadro terrível?

Tendo em mente essa conexão das plantas com tradições e economia, fiquei inspirado a criar um empreendimento que trouxesse um pouco mais desse conhecimento a respeito da terra e tudo o que ela generosamente nos dá, principalmente a nós, cidadãos urbanos, meio desconectados com o nosso meio ambiente e nossas relações com as plantas e os animais. Nessa mesma época, em 2015, prestes a me formar, me tornei vegetariano após ver o documentário “Cowspiracy” (recomendo muito!), que foca muito nas questões ambientais e econômicas relacionadas às nossas escolhas alimentares. Então a preocupação em transmitir conhecimento sobre alimentação vegetariana e  vegana, se tornou complementar às outras ideias em mente.

As PANC (plantas alimentícias não convencionais) casaram perfeitamente com esse desejo de mais conhecimento e consciência, principalmente pelo fato de grande parte delas refletir culturas e identidades de diversos povos, alimentos quase esquecidos pelo tempo, mas que representam muito costumes, tradições, modos de fazer, rituais ao redor do mundo, afinal, comida não é só o alimento e seu potencial nutricional, mas também são as pessoas e os sentimentos envolvidos! As PANC também representam uma variedade enorme de possibilidades alimentares que vão além dos produtos de origem animal, e nos permitem inúmeras opções criativas na cozinha.

Mas porque o nome e a imagem da Jaca Verde? A jaca, por si só, já é um alimento bem marginalizado, apesar de comum em algumas partes do Brasil, poucas pessoas usam no dia a dia como alimento. Apesar disso, ela é incrivelmente abundante. Imagine você que um fruto, apenas UM fruto de jaca pode pesar até 50 kg! Além de ser consumida madura, na sua forma mais comum, ela tem a versatilidade de poder ser consumida verde e também suas sementes cozidas! Ou seja, além de abundante (que representa a abundância da biodiversidade das PANC), ela é não convencional pelas suas formas de preparo, e ótima opção para a culinária vegana, sendo a “carne de jaca verde” uma das queridinhas do público vegetariano e vegano.

Jaca Verde vem então como um convite a explorar a biodiversidade alimentar, conhecendo cada vez mais sobre as plantas que estão próximas de nós, e celebrar as culturas e os alimentos, de forma cada vez mais ecológica, saudável e ética!

Por que Pancs?