Nas minhas buscas pelas PANCs me deparo com muitas frutas e verduras que, incrivelmente, aguçam as lembranças e nostalgia das pessoas mais velhas e do interior. O motivo? São vegetais que eram muito presentes na infância ou na região de origem dessas pessoas, e dessa forma, trazem geralmente boas lembranças e casos e histórias guardadas há tempos. Sempre me pergunto: porque essas PANCs viraram não convencionais? Porque as pessoas relegaram elas a uma “segunda classe”? Felizmente, nos últimos tempos algumas dessas PANCs estão voltando ao gosto dos brasileiros, e, espero que muitas outras também voltem a despertar o interesse das pessoas e aparecerem mais nos cardápios das casas e restaurantes!
Curioso pra saber quais são algumas delas? Aposto que você também vai lembrar de alguma dessas!
1 – Jambolão (Syzygium cumini) – Também conhecida como jamelão, essa frutinha muito comum nas cidades do Brasil, é famosa por tingir as calçadas de roxo. O que muita gente não sabe nos dias de hoje é que ela é comestível, docinha, uma delícia! Mas o pessoal mais antigo das cidades e do interior conhece bem a fama do jambolão e não perde a oportunidade de se deliciar com ele.
2 – Cidra (Citrus medica) – Fruto de polpa bem ácida, às vezes até azeda, a cidra é muito conhecida e usada pelo pessoal do interior do estados brasileiros, principalmente na região de Minas Gerais, onde é feito o tradicional e histórico doce de cidra. Nas cidades grandes é uma ilustre desconhecida que de vez em quando aparece nos supermercados.
3 – Araruta (Maranta arundinacea) – Muito usada antigamente para fazer pães, bolos e biscoitos de sequilhos, a farinha da araruta (sabe-se lá porque), caiu em desuso e hoje é mais encontrada é em feiras e mercados regionais (apesar de ser misturada com outras farinhas na maioria dos casos). Ela é um ótimo substituto para a farinha de trigo em receitas sem glúten e tem propriedades parecidas com o amido de milho e os polvilhos doce e azedo. A Jaca Verde é uma grande fã dessa PANC e apoia o desenvolvimento de novas receitas com ela!
4 – Melão croá (Sicania odorifera) – Também conhecido como croá e berinjela de cerca, essa fruta, que de longe parece uma mega berinjela (nas cores preta e vinho), mas por dentro é como um melão, só que com a cor mais amarelada e um cheiro bem mais forte e característico. Segundo o Lorenzi et al., no livro Frutas no Brasil, o croá era muito cultivado antigamente nas hortas e pomares domésticos principalmente no sul do Brasil. Entretanto, hoje é raro encontrar alguém que aprecie a fruta e a cultive. Uma pena, porque dela se pode fazer suco, sorvete, refogada, e o que mais sua imaginação criar!
5 – Pitanga (Eugenia uniflora) – Nativa do Brasil, principalmente na região da Mata Atlântica, a pitanga é uma árvore que você encontra facilmente nas ruas das cidades (especialmente aqui em BH). Já ouvi muita gente das antigas comentando que na sua infância era uma diversão subir no pé de pitanga e devorar seus frutos na época do amadurecimento. Nunca foi muito comercializada, e hoje não é diferente, no entanto, se você perguntar para os mais jovens, provavelmente nem sabem como é e qual é o gosto da pitanga. Há uma gama de tipos de pitanga bem grande, desde roxa até amarela, tendo as vermelhas e laranjas no meio desse espectro. Uma vez vi pitanga roxa em Jaboticatubas e fiquei maravilhado com a beleza e o sabor dela!
5 – Jatobá (Hymenea spp.) – Um dos frutos favoritos na cozinha da Jaca Verde, o jatobá é um tanto controverso! Algumas pessoas amam, outras odeiam, por causa do cheiro (que alguns dizem lembrar chulé! Hahaha). Eu particularmente amo esse fruto, que é rico em vitamina C e cálcio, e muito versátil na cozinha, podendo ser usado em pratos salgados e doces. Geralmente quando levo produtos feitos com jatobá nas feiras, muitos me dizem: “Ahh, que saudades da minha infância!” , “Minha avó tinha um pé de jatobá na casa dela”, “A gente comia isso quando criança, e ficava grudado no céu da boca o dia todo!”. Uma pena que o fruto realmente caiu em desuso e quase não se vê mais em mercados, principalmente os da região do Cerrado (seu habitat natural). Antigamente era muito comum o uso do “vinho de jatobá” e a preparação do mingau de jatobá. Ainda nos dias de hoje, em comunidades tradicionais e casas de ervas e raízes é possível encontrar as cascas e resina do jatobá sendo usadas como remédio natural pra bronquite, tosse e problemas respiratórios.
6 – Umbigo de banana – A banana não é e nunca foi uma PANC mas o seu umbigo (também chamado de mangará, coração, bogó) com certeza é! Aqui em Minas, principalmente na região de Itabirito, o umbigo (“imbigo”) de banana é um ingrediente tradicional e “das antigas” , sendo muito usado como recheio de pastel de angu, e refogado como se fosse palmito. Depois de cozido e tirado seu amargor, ele realmente parece em textura e sabor com o palmito. Porém, esse uso ainda é bem desconhecido atualmente, e a venda do umbigo é bem rara.
7 – Pau doce (Hovenia dulcis) – Árvore exótica e gigantesca, seu pseudofruto também é conhecido como uva japonesa, por lembrar das uvas passas. Não há, das pessoas mais antigas, que veja essa PANC e não lembre da infância aqui em Minas! Todo mundo lembra do “pau doce” que tinha na sua rua ou na casa de um parente e que a criançada toda subia no pé e devorava os frutinhos. Hoje, infelizmente, se tornaram uma raridade, quase não se vê por aí. A última vez que encontrei foi no Mercado Central de Belo Horizonte. Na China, onde a árvore é nativa, o pessoal faz uma bebida tipo chá com ela, que ajuda as pessoas que estão com ressaca.
8 – Picão (Bidens pilosa) / Serralha (Sonchus oleracea) – Resolvi escrever sobre essas duas em conjunto, pois quem conhece o uso de uma geralmente conhece o uso da outra na culinária. Antigamente eram muito usadas pelas pessoas vindas do interior para as capitais não só como medicinal mas também como hortaliça. Já ouvi relatos de que, na falta de carne e arroz, as pessoas mais pobres caçavam o “mato que dava pra comer” em lotes vagos. Picão e serralha não fogem à regra. Atualmente são bem relegadas, seja por que são consideradas como mato, erva daninha, ou por lembrarem algumas pessoas de tempos difíceis. Isso não tira o seu potencial nutritivo e variadas possibilidades culinárias!
9 – Gondó (Erechtites valerianifolius) – Segundo Kinupp, na década de 70 o gondó (ou capiçoba) era considerado como hortaliça folhosa no Brasil. Hoje, infelizmente, é rara de se ver em mercados e feiras, só quem cultiva a tradição que conhece bem as possibilidades culinárias dessa planta. Aqui em Minas é bem comum na região de Mário Campos e Igarapé, e muito usada como refogada e acompanhamento de costelinha de porco. Na Jaca Verde ela é matéria prima de pães.
10 – Cansanção, urtiga (Urera aurantiaca) – Sim, isso mesmo que você está lendo, a urtiga é comestível, e muito comum na cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais! Antigamente ela era muito consumida pelo pessoal no interior dos estados do Centro Oeste e de Minas, sempre fervida pra tirar a sua urticância! Seus frutos também são comestíveis, mas segundo Kinupp (2014) são insípidos.
E você, lembra de mais alguma planta ou fruto que era muito comum e hoje não é mais? Conta pra gente nos comentários!
3 pensamentos em “Populares de ontem, esquecidas de hoje…”
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Lucas, parabéns pelo blog! Muito didático e interessante! Continue nesse trabalho de desvendar essa riqueza tão grande, e que pode ser algo muito mais comum a todos nós, aumentando nossa diversidade alimentar e seus possíveis benefícios à saúde!