Gosto de cerrado: Descobrindo o cerrado pelo paladar

Alimentos feitos com ingredientes do Cerrado. Foto: Adriano R. de Melo (Food and Road) /

Mamacadela, jatobá, araticum, pimenta de macaco, buriti, pequi, congonha de bugre, jenipapo… O que esses nomes têm em comum? São todos frutos ou partes de vegetais que têm origem no nosso Cerrado, este ambiente que é rico em vida de plantas e animais, nossa savana brasileira, que corresponde a 22% do território brasileiro e que cobre a maior parte de Minas Gerais. O que talvez poucos saibam é que agora em Setembro, no dia 11, foi comemorado o Dia Nacional do Cerrado. Esta data foi instituída em 2003, em busca de dar maior visibilidade a esse bioma, que é um dos nossos símbolos nacionais e que, infelizmente, anda sendo mais devastado que a Amazônia para dar lugar a pasto para gado e plantações de soja, principalmente.

O Cerrado possui uma das áreas com maior biodiversidade no mundo, com cerca de 6000 espécies de plantas e 800 espécies de aves, além de várias outras espécies de animais. Muitas dessas plantas têm uso econômico, seja como alimento, medicina, artesanato, dentre vários outros usos.

Foi pensando nessa riqueza que está em risco de se perder, junto de toda a sabedoria popular e tradicional atrelada às plantas, animais e paisagem, que resolvi fazer uma homenagem ao Cerrado, junto do meu projeto Jaca Verde PANC, da Carolina Filizzola, artista do Cipó Criativo e do convívio Slow Food em Belo Horizonte. No dia 11 desse mês, conduzimos no Centro de Arte Popular, em Belo Horizonte, uma oficina sensorial e artística para trazer maior atenção a esse bioma e suas possibilidades, a qual chamamos de “Gosto de Cerrado”.


Frutos secos para serem sentidos e tocados. Foto: Adriano R. de Melo (Food and Road)

Os participantes foram convidados a ter uma experiência múltipla de sentidos através do sentir e tocar, relacionada aos frutos secos e folhas do Cerrado, sentir o aroma de plantas e ingredientes da região e provar dos sabores que esses ingredientes podem proporcionar. Foi sugerido aos participantes que descrevessem suas percepções sobre as características de cada momento experimentado: toque, cheiro e gosto. Depois, houve um momento de compartilhar as impressões sobre a atividade. Não foi raro escutar dos participantes que, para muitos, alguns cheiros, sabores e texturas eram praticamente desconhecidos por eles, trazendo muita surpresa ao descobrirem que grande parte do que estava ali se encontra bem próximo da nossa capital mineira. No entanto, infelizmente ainda é raro de se ver a comercialização desses produtos em mercados, supermercados e feiras na capital e em outras grandes cidades do Estado.


Um convite a provar os sabores desconhecidos. Foto: Lucas Mourão

Grande parte desses recursos que vêm do Cerrado estão conectados com a sabedoria e cultura popular de povos dessa região. Por vezes, esse conhecimento quase não chega ao cotidiano das metrópoles. Fica a reflexão aos leitores deste artigo: onde está a valorização da nossa cultura e dos ingredientes da nossa terra?

Houve também um convite à celebração dessa riqueza “escondida” do Cerrado, com uma mesa repleta de preparações feitas com base nos ingredientes que os participantes puderam sentir, cheirar e provar. No cardápio, tinha: pão de pequi com crosta de pimenta de macaco, pão azul de jenipapo, chá de congonha, bolo de jatobá com baru, bolo de babaçu, antepasto de abobrinha com óleo de buriti, casadinho de buriti, suco de araticum, chucrute com flores de ipê, dentre outros. Também esteve presente no evento a querida produtora de licores Marinalva, de São José da Serra (distrito de Jaboticatubas), com seus sabores únicos e inusitados do Cerrado, compartilhando um pouco com o público a sua história e conhecimento.


Marinalva, produtora de licores com sabores do Cerrado, de São José da Serra. Foto: Adriano R. de Melo (Food and Road )

Casadinho de buriti ao centro. Próximo a ele, a vela feita com tingui e o pão amarelo de pequi. (Foto: Lucas Mourão)

Após a degustação, os participantes foram convidados a se sentarem à mesa e prepararem seu “prato” (CDs reciclados) pintando-o com tintas de terras do Cerrado e expressando, através da arte, o que sentiram com a atividade sensorial. Os resultados foram bem interessantes, com reações de surpresa, encantamento, descoberta e entusiasmo por estarem mais conectados com o ambiente que nos cerca.

Arte: Carolina Filizzola

E você, já sentiu o gosto do Cerrado? Conhece a potência de seus sabores e aromas? O que o Cerrado representa pra você? Deixe abaixo seu comentário!

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