Ipês que colorem ruas e pratos
Segue abaixo texto de agosto de nossa coluna no blog Territórios Gastronômicos:
Rosa, roxo, amarelo, branco e até mesmo verde…Essas são as variadas cores que as flores de ipês podem apresentar, e que temos o privilégio de ver pelas ruas de Belo Horizonte, e de outras cidades do Sudeste, nessa época de agora no Inverno.
Muitas vezes só começamos a perceber a existência dessas grandes árvores e arbustos quando todas as suas folhas caem e só ficam as lindas e perfumadas flores. Esse efeito não é por acaso: é fruto do trabalho de paisagismo na arborização urbana, pensando nos contrastes de cores e efeitos visuais entre as estações do ano. Também conhecido pelos nomes populares de caroba, pau d’arco, caraíba, piúva e lapacho, os ipês são aproximadamente 40 espécies de árvores diferentes (principalmente dos gêneros Handroanthus, com 27 espécies no Brasil, e Tabebuia, com 12 espécies no país) que existem no Brasil, de Norte a Sul, em todos os tipos de vegetação, desde o Cerrado até em densas florestas. Também são presentes em outros países da América do Sul e Central, sendo inclusive símbolo nacional de países como Paraguai, El Salvador e Venezuela.
Na capital mineira, de acordo com o Inventário de Árvores da Prefeitura, são cerca de 27.000 ipês de todas as cores pela cidade, o que corresponde a 9% do total de árvores de BH! Não é a toa que a árvore é um dos principais símbolos da cidade e do país, ajudando a colorir o cinza monótono do concreto que predomina nas cidades.
O que talvez seja pouco sabido pelos habitantes belorizontinos, e de outras grandes cidades brasileiras, é que as flores, cascas e folhas de alguns ipês têm usos medicinais e alimentícios!
Desde antes da chegada dos portugueses em solo brasileiro, os indígenas já usavam a casca e folhas do ipê como remédio, hoje conhecido como anti-inflamatório, anti sífilis, contra úlceras, inflamações da pele e mucosas e contra gripes e resfriados, tanto na forma de xarope, quanto de decocto, que é a infusão da casca após fervura. Não é a toa que na região do Mato Grosso as árvores de ipê são conhecidas como paratudo! Os ipês mais usados na medicina popular são o ipê amarelo do Cerrado (Tabebuia aurea), através de sua casca e folhas, e o ipê roxo de bola (Handroanthus impetiginosus), através de suas cascas.
Sua madeira também é muito apreciada desde o tempo colonial, servindo para fazer desde carros de boi até assoalhos de casas, e hoje é uma das mais caras no mercado devido à proibição do corte de ipês para fins madeireiros.
Além do uso medicinal e madeireiro, as flores dos ipês branco, amarelo e roxo tem indicação de alimentícias pelo livro de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) do professor de Botânica e Agroecologia Valdely Kinupp. Suas aplicações culinárias podem ser em decoração de pratos, em saladas, refogadas, salteadas, empanadas, ou até onde for a sua imaginação! O aroma é perfumado e o sabor também, com um toque floral levemente doce e amargo (que lembra almeirão), sendo que algumas espécies são mais amargas que outras. A madeira de ipê branco também tem um uso peculiar na destilaria sendo usada no tonel para envelhecer uma cachaça mineira de Comercinho, chamada “Contra Veneno”.
Nas experiências da Jaca Verde já fizemos alguns testes com as flores de ipê branco e amarelo, como refogado, em farofas, saladas e como essência para aromatizar bolos e doces. Experiências muito felizes, saborosas e coloridas, como podem ver nas fotos abaixo:
Fica o convite aos leitores para apreciarem, na próxima vez que virem flores de ipê, a sua beleza não apenas com os olhos, mas também com a boca!