Tradição no uso das PANC na Serra do Cipó

Ao falar das PANC (plantas alimentícias não convencionais) o assunto pode parecer muito novo à primeira vista , mas não é bem assim. Em diversos locais no interior do país, ao conversar com pessoas mais idosas e sábias, descobrimos que as PANC foram (e ainda são em alguns lugares) uma realidade alimentar no meio onde vivem. Em encontro com os produtores de alimentos e artesanato da Serra do Cipó, em Minas Gerais, a Jaca Verde teve a oportunidade de conhecer pessoas que fazem uso tradicional de PANC há muito tempo, prática herdada de seus antepassados, sábios conhecedores das ditas “plantas do mato”. Nesse artigo reunimos algumas das plantas que são comuns na região da Serra, a 100 km de Belo Horizonte, que está dentro de um ambiente que é uma mistura de Mata Atlântica e Cerrado.

Vamos falar de alguns usos de plantas pouco usadas que descobrimos conversando com os produtores do Mercadinho Tá Caindo Fulô:

Das folhas de amora é possível fazer chá e refogar como se fosse couve. Normalmente conhecemos a amora somente pelo seu fruto maduro, mas a planta pode ter uso do seu fruto também verde (moderadamente) e de suas folhas, que são ricas em cálcio!

Folha de amoreira

O popular caruru (Amaranthus spp.), também conhecido por caruru de porco (pois era dado como comida aos porcos), essa planta, que é da mesma família da quinoa e da beterraba (Amaranthaceae) é rica em proteínas, cálcio, ferro e outros nutrientes. Antigamente era usada na região como alternativa à escassez de comida.

Caruru, planta comum em praticamente todos os lugares

Muito comum em jardins e quintais da nossa região, a vassourinha (Sida spp.) é uma linda erva de flores brancas e/ou amareladas com centro vermelho, da mesma família do quiabo e do hibisco (Malvaceae) e que também já foi muito usada como comida em épocas de escassez. Na Serra do Cipó indicam ela como refogada ou como chá.

O umbigo de banana é uma PANC clássica de várias regiões mineiras, e na Serra não poderia ser diferente! Após retirar as brácteas roxas que envolvem o núcleo do umbigo, você deve picar a parte branca que sobra em uma mistura de água, sal e limão para evitar a oxidação e mudança de cor. Depois é necessário cozinhar em duas águas trocadas para tirar o amargor e colocar temperos, de forma que, após o preparo fica parecendo com palmito picado. Uma verdadeira iguaria!

Umbigo de banana

A grande surpresa na conversa que a Jaca Verde teve com os produtores foi o relato do uso do broto (grelo) de embaúba (Cecropia peltata) na cozinha. Essa árvore maravilhosa, que é nativa em quase todo o Brasil, pode ter suas folhas novas, chamadas de grelo, cozidas ou refogadas como se fosse couve, segundo relatos da produtora Naiara. Além disso, após pesquisa da Jaca, descobrimos que os frutos da embaúba também são comestíveis!

Embaúba – foto: Google imagens

Ainda segundo a produtora Naiara, de acordo com a tradição de sua mãe e avó, as folhas de quiabo novinhas são ótima fonte de alimento e nutrição, e não somente o fruto verde como estamos acostumados.

De acordo com a produtora Marina, a urtiga que não queima (Laportea aestuans) já foi mais comum na mesa dos habitantes da Serra. Segundo seu relato, se catava a urtiga com a mão, sem luva mesmo, “pedindo licença para a planta não te machucar”. Depois disso, ia pra panela ou pro liquidificador para virar importante complemento nutritivo na alimentação do pessoal.

Urtiga de jardim

Muito comum nos diversos brejos que existem na Serra, o chapéu de couro (Echinodorus grandiflorus) é tão famoso aqui em Minas que tem até um refrigerante em sua homenagem, o Mate Couro, que muitos do resto do Brasil não devem conhecer.

Outro fruto incrível muito famoso nos interiores de Minas Gerais é o coco da palmeira macaúba. Apesar de não ser muito indicada a sua extração, o palmito do coqueiro de macaúba (Acrocomia aculeata) é, assim como os palmitos de quase todas as palmeiras (Arecaceae), comestível. Sua extração não é indicada pois, por ser uma palmeira que nasce somente um estipe (caule), ao retirar o palmito da árvore, a mesma morre, pois é na região do palmito onde nascem folhas novas. Mas o uso mais comum na região é o óleo que se obtém de sua polpa e suas amêndoas, usado tanto na cozinha quanto para fazer sabões.

Palmeiras de macaúba, paisagem comum na Serra do Cipó

Duas variedades de coquinho macaúba

E você, sabe de algum uso tradicional das PANC de sua região? Conta pra Jaca nos comentários!

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