O termo PANC (plantas alimentícias não convencionais) foi cunhado recentemente pelo grande botânico brasileiro Valdely Kinupp e caracteriza o conjunto de plantas que são consideradas de uso alimentício incomum, geralmente vistas como ornamentais, como mato, adubo ou simplesmente desconhecidas de seu potencial comestível. No entanto, para essa postagem, selecionei um grupo dessas PANCs, que inclusive aparecem no livro do Kinupp e do Lorenzi, que são PANCs em grande parte do Brasil, porém em outros estados ou regiões elas são muito comuns, perdendo dessa forma o seu status de PANC. Vamos conhecer algumas delas?
1 – Taioba (Xanthosoma sagittifolium) – Da família das Aráceas e nativa de Minas Gerais, nada mais comum do que ela fazer parte de grande parte das feiras mineiras. A taioba é a queridinha de nós mineiros, principalmente refogada (ela crua pinica a garganta!) e acompanhando outros pratos. No entanto, em grande parte do Brasil e do mundo ela é vista como PANC ou ornamental. Um uso dela que é alternativo até em Minas é o cozimento de seus rizomas (parte subterrânea), assim como se faz com o inhame (que é o próximo da lista).
2 – Inhame (Colocasia esculenta) – Também da família das Aráceas, o inhame (ou taro) é muito confundido com o cará (que é de outra família, das Dioscoriáceas), porém tem sabor e visual muito parecido. Nativo do sudeste asiático, ganhou cultivo e paladar no Brasil na região de Minas, Rio e Espírito Santo, através da influência de escravos africanos na época colonial. Nesses estados é facilmente encontrado nas feiras e sacolões, mas no resto do Brasil virou PANC. Aqui em Minas usamos muito como cozido, mas também pode ser assado, frito, feito de purê, e até usado cru em sucos (com parcimônia!). Em alguns lugares dizem que o seu suco com limão é ótimo na recuperação de quem está com dengue. Na cozinha vegana virou um dos ingredientes favoritos de cozinheiros, devido a sua versatilidade e neutralidade, podendo ser usado como leite e creme em outras receitas.
3 – Ora pro nobis (Pereskia aculeata) – Outra queridinha dos mineiros, a ora pro nobis (também conhecida como carne de pobre, pelo seu alto teor de proteínas e ferro), é da família dos cactos e é nativa do Brasil, mais especificamente das regiões Sul, Sudeste e Nordeste. No entanto, é em Minas mesmo que ela é encontrada em vários mercados, feiras, sacolões, quintais e hortas. Em Sabará (MG) existe um festival só em sua homenagem! Com a onda de alimentação dos últimos anos, o pessoal de todo o Brasil começou a dar mais destaque a essa pérola da nossa flora nacional. É muito usada refogada pra acompanhar pratos feitos com porco, mas também serve para fazer pães, farinha, e de seus frutos, geleia. Suas flores também são comestíveis.
4 – Umbu/Seriguela – O umbu (Spondias tuberosa) e a seriguela (Spondias purpurea) talvez passem despercebidos na maior parte do Brasil e do mundo, mas na Bahia e no Nordeste em geral esses frutos da família das anacardiáceas (a mesma do caju e da manga) são super comuns nos mercados, feiras e na alimentação do povo. Usados como geleia, suco, chutney e doce, esses frutos são incríveis pelo sabor que é uma mescla de ácido e doce, e conferem originalidade nas receitas em que são empregados. No entanto, o uso das raízes e das folhas dessas plantas ainda é alternativo até mesmo na Bahia!
5 – Pequi (Caryocar brasiliense) – Considero o pequi como a joia do nosso cerrado. Essa fruta, que pra muitos é insuportável por causa do cheiro, é rica em vitaminas A e C, carboidratos, gordura, proteína e cálcio. Nativa em todos os estados do Centro Oeste, Minas Gerais e partes de São Paulo, essa fruta é a queridinha mesmo de quem mora nas áreas de Cerrado, principalmente Goiás, Mato Grosso do Sul e Norte de Minas. Nesses estados você encontra o pequi em conserva e na farofa o ano todo! (apesar da frutificação do pequi se dar só nos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro). A versatilidade do pequi é incrível: é servido como doce, com arroz, com frango, cozido com feijão, misturado na farofa, e muitos outros usos que vão inventando a cada dia.
6 – Jambu (Acmella oleracea) – Ingrediente indispensável da gastronomia paraense e amazonense, através dos pratos pato no tucupi e tacacá, o jambu é uma erva nativa da Amazônia e muito conhecida pelo seu efeito de dormência na língua. No Pará até cachaça de jambu eles fazem! No resto do Brasil, infelizmente, é um ingrediente difícil de ser encontrado e demandado.
Flor de jambu cultivada pela Jaca Verde
7 – Guasca, picão branco (Galinsoga parviflora) – Essa erva, que é considerada como mato em muitas plantações no Brasil, e também muito encontrada nas calçadas das cidades, é muito usada como tempero na Colômbia e nos países andinos. Em Bogotá é ingrediente indispensável do prato típico da cidade, o ajiaco santafereño, uma sopa feita com 3 tipos de batatas, frango, guasca e milho.
8 – Palma (Nopalea cochenillifera) – Muito usada como ornamental aqui no Brasil, a palma (nopal em espanhol) é ingrediente cotidiano da culinária mexicana através de grelhados, sucos, bolos, pães e ensopados. Da palma também se obtém o corante alimentício vermelho, o qual é processado pela matança das colchonilhas presentes nessa planta. Esse processo de obtenção do corante é muito criticado pelos veganos, pois milhões de insetos são mortos para fazer o corante vermelho carmim, utilizado em inúmeros alimentos ao redor do mundo.
9 – Tiririca, chufa (Cyperus esculentus) – Praga séria em plantações de todo o Brasil e do mundo, a tiririca, conhecida como chufa na Espanha, tem um grande valor comercial/alimentício no país, e é ingrediente principal da bebida típica horchata. A horchata também é muito comum no México. A parte utilizada da planta são suas túberas subterrâneas, que podem virar “leite” e farinha, as quais podem ser usadas em várias outras receitas.
10 – Dilênia, maçã de elefante (Dillenia indica) – Muito usada na arborização urbana no Brasil, essa árvore, de origem na Ásia tropical, tem seu fruto muito usado na cozinha indiana (em hindi é conhecido como chalta). Na Índia o fruto é usado verde e maduro em chutneys, molhos, mousses, e curries. Tem um odor e sabor intensos, não agradando a muita gente! Segundo Kinupp, também possui usos medicinais.
Dilênia nas ruas de BH
11 – Tamarindo (Tamarindus indica) – Assim como a dilênia, o tamarindo é muito usado na cozinha indiana e sul asiática, em chutneys, molhos, geleias e sucos. De sabor acídulo, é comum também em alguns lugares no nordeste do Brasil. No México é usado na agua de tamarindo, uma mistura de tamarindo, limão e hibisco, que é super refrescante e de sabor exclusivo!
12 – Vinagreira, cuxá (Hibiscus sabdariffa) – Originária da África, a vinagreira é praticamente desconhecida em todo o Brasil, exceto no Maranhão e em alguns estados do norte, no qual é conhecida como cuxá, e ingrediente principal do famoso arroz de cuxá maranhense. Seu uso mais conhecido mundialmente é através dos seus cálices florais, os quais são usados para sucos, chás e geleias. Em outros idiomas é conhecida como bissap (uolof), flor de Jamaica (espanhol), roselle (francês), e florida cranberr (inglês).
13 – Jabuticaba (Plinia cauliflora) – Nossa principal “berry”, a jabuticaba é nativa da Mata Atlântica, mas é muito consumida e comum mesmo é nos quintais, feiras e hortas de Minas Gerais. Em Sabará, assim como a ora pro nobis, a jabuticaba tem um festival só pra ela. Dela se fazem vinhos, sucos, geleias, doces, molho com pimenta, e muitos outros usos.
14 – Fisális, uchuva (Physalis pubescens) – Da mesma família do tomate (solanáceas), a fisális é nativa em toda a América do Sul, mas seu uso frequente mesmo é na região dos países andinos, onde é conhecida como uchuva (Colômbia). Recentemente foi redescoberta por chefs brasileiros, no entanto seu preço em feiras e supermercados continua alto (apesar de ser nativa), e ela confere um toque gourmet aos pratos em que é usada. Tem sabor doce e acído e é usada em doces, sucos, geleias e o que mais sua imaginação criar.
15 – Pinhão (Araucaria angustifolia) – O pinhão é a semente da pinha, fruto da araucária, árvore nativa das regiões de altitude sulinas do Brasil. Nos estados do Sul, principalmente Paraná, o pinhão é o queridinho do povo. Servido cozido, como paçoca, bolo ou acompanhando arroz, ele é uma semente versátil, que no entanto não é tão conhecida assim no resto do país.
E você, conhece mais alguma PANC que não é PANC no seu estado ou região? Conta pra gente!
2 pensamentos em “15 plantas alimentícias não convencionais que podem ser usadas na sua rotina”
Sou amante da natureza e apreciadora das pancks, dizem-se que posso morrer envenenada, digo: morro feliz!! Amo as pancks!!!! Gostaria de receber receitas de pães de pra pro nobes, chás sucos, farinhas….
Muito bom, quero saber mais