Uma viagem pelos sabores do Norte de Minas

Lembranças de Januária: casca de amburana, doce de buriti, maracujá do mato, castanha de pequi e garrafada de quina

Texto também publicado no blog Territórios Gastronômicos:

Acabo de voltar de uma viagem mágica ao incrível Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no norte de Minas, e, inspirado pela experiência vivida no final de semana resolvi escrever um pouco sobre cultura e alimentação que vi e provei nesses dias.

Para quem nasceu e cresceu na capital mineira, o Norte do estado é uma região geralmente desconhecida de suas paisagens, cultura, aromas e sabores. Chegando próximo de Montes Claros já vemos claramente a mudança de paisagem na estrada, que predomina um Cerrado bem selvagem e belo, cada vez mais agreste na medida em que se sobe o caminho para Januária. Vemos também as famosas veredas, repletas de buritis imponentes que compõem o paisagismo natural da região. Ao chegar no Parque Cavernas do Peruaçu, a imagem do todo impressiona pela beleza e grandeza das montanhas e pedras cheias de história para contar. É um parque que existe desde 1999, passou por um tempo fechado, e só no ano passado voltou a abrir para visitação. Reconhecido por sua grande quantidade de cavernas, grutas e pinturas rupestres de estilo único, o Parque Cavernas do Peruaçu é um convite à imaginação de como era a vida de nossos ancestrais e sua cultura.

Gruta do Janelão – Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, MG – Foto: Lucas Mourão

O Parque se encontra em três municípios do norte mineiro: São João das Missões, Itacarambi e Januária, esta última da qual vamos falar nesse texto. A cidade tem raízes antigas, no povoado de Brejo do Amparo, onde inicialmente os bandeirantes se instalaram quando chegaram à região, entrando em conflito com os indígenas caiapós que já habitavam a área. Nesse povoado hoje se encontra o centro histórico da cidade e onde podemos visitar alguns alambiques que representam um pouco da importância da cachaça na economia do município. Nessa viagem visitei a Fazenda Sítio, onde se produz a cachaça Franciscana, com fermento de fubá, e recentemente começaram a produção de cervejas artesanais. Por lá também encontramos garrafadas (feitas com cachaça) de plantas medicinais da região, tais como quina do cerrado, calunga, sassafrás, dentre outras emblemáticas do Cerrado, um trabalho muito bacana de resgate das tradições comandado pela família dona do alambique. Além disso, também produzem rapadura, bem comum na região.

Garrafadas de cachaça feitas com plantas medicinais da região, e comercializadas no povoado de Brejo do Amparo, em Januária

Saindo do povoado de Brejo do Amparo, fui ao Mercado Central de Januária, um local interessantíssimo no qual podemos encontrar variados ingredientes, medicinas e artesanato icônicos do Norte de Minas, que em alguns casos sequer chegam aos mercados da capital mineira. O ambiente do mercado é bem diferente do Mercado Central de BH: há dois ambientes principais, um voltado para ervas, raízes e alimentos, e o outro mais focado no artesanato e outros produtos. Na parte das ervas é possível encontrar uma ampla gama de plantas medicinais típicas do Cerrado/Caatinga, só para citar algumas: barbatimão, carqueja, amburana (casca e sementes), semente de sucupira, resina de jatobá…

Carqueja e barbatimão no Mercado de Januária
Resina de jatobá gigante

Na parte dos alimentos, por sua vez, encontramos ingredientes que mais nos fazem pensar que estamos mais na Bahia do que em Minas Gerais: muita rapadura, muita farinha de mandioca, tamarindos (tanto com casca quanto sem), uma enorme variedade de feijões (em garrafas PET), óleo e castanha de pequi, óleo e castanha de babaçu, doce de buriti, baru, pimenta de macaco, maracujá do mato, pimenta de cheiro e outras pimentas diferentes, só para citar alguns.

Sementes de amburana, pimenta de macaco e sucupira
Sementes de baru e babaçu
Variados feijões
Óleo de pequi, óleo de coco babaçu e mel de abelha nativa, em garrafas PET

Visitar esse mercado é um convite a explorar novos aromas, sabores e texturas, presentes na cultura norte mineira, carregados de histórias e memórias afetivas, que por vezes passa despercebida pelos cidadãos da capital e de outras regiões do Estado. E você, caro leitor, tem alguma lembrança afetiva ou conhece algo da cultura alimentar do Norte de Minas? Compartilhe com a gente nos comentários!

*Todas as fotos do texto são de autoria de Lucas Mourão / Jaca Verde Panc

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